quinta-feira, 26 de junho de 2008

Próximo dia 1 marca os 150 anos que Darwin e mais dois amigos passaram Wallace para trás

No ano de 2009 serão comemorados os 150 anos da primeira edição inglesa do mundialmente famoso “Origens das Espécies”. Porém, cerca de um ano antes do livro ir para o prelo, Darwin autorizou a divulgação pública de alguns documentos secretos que continham as bases da Teoria da Seleção Natural. Mas por que Darwin fez isso, em vez de reservar o inédito conteúdo para o “o grande livro” que pretendia publicar?
O motivo estava há milhares de quilômetros da Inglaterra, no Arquipélago Malaio e se chamava Alfred Russel Wallace, um naturalista amador que coletava de animais exóticos para vender a museus e colecionadores.
Certa vez, Wallace ardeu em febre de malária e teve que ficar recolhido por dias. Assim, longe das matas e dos rios, ele encontrou tempo disponível para refletir e escrever uma carta para Darwin. O assunto principal era a origem das espécies, a qual ele se inspirou durante anos de trabalho em florestas tropicais, e na leitura de livros, como “Ensaios da população” do economista Thomas Robert Malthus. Na correspondência Wallace descrevia a distribuição geográfica e geológica de plantas e animais, as quais o fizeram questionar se o observado não poderia indicar as maneiras pelas quais as espécies se originavam.
Em 18 de junho de 1858 Darwin recebeu um embrulho na tranqüilidade de sua casa, o abriu, e em seguida leu o ensaio "Sobre a Tendência das Espécies de se Separarem Indefinidamente do Tipo Original” e se assustou. As idéias descritas eram praticamente as mesmas que ele utilizara para construir a Teoria da Seleção Natural. Tanto que escreveu para o geólogo Charles Lyell que ele próprio não poderia ter feito um pequeno resumo melhor.
Para os pesquisadores, há algumas razões que levaram Wallace ter a mesma idéia que Darwin, uma delas foram as pesquisas em ilhas, pois esse ambiente oferece um isolamento populacional, as diferenças se acentuam, e não há cruzamento com outras espécies. As hipóteses de Wallace surgiram no Arquipélago do Malaio, as de Darwin, em 1835, nas ilhas Galapagos.
Mas o que Darwin faria agora? Afinal, havia a real possibilidade dele ser superado por outro naturalista.
Foi nesse momento que Darwin sentiu um peso nos ombros e precisou pedir ajuda a dois fiéis amigos, o botânico Joseph Dalton Hooker e o geólogo Charles Lyell. Rapidamente eles conseguiram encontrar espaço na pauta de reunião de uma sociedade londrina, onde orquestraram para a noite seguinte a leitura de documentos, que garantiria a prioridade de Darwin em relação à formulação da Teoria da Seleção Natural.
Na noite de 1 de julho de 1858, o ensaio de Wallace, mais os resumos de outros feitos por Darwin 14 anos antes, além da carta enviada em 1857 a um biólogo de Harvard, Asa Gray, que descrevia aspectos da Teoria da Seleção Natural, foram lidos para cerca de 30 sócios da Linnean Society of London. Mas, a reação do público não foi significativa, tanto que o presidente da sociedade chegou a dizer, tempos depois, que infelizmente o ano não tinha sido marcado por nenhuma descoberta que revolucionasse o mundo da ciência. No entanto, esse arranjo serviu para oficializar publicamente o desejado, que Darwin já trabalhara com a idéia da seleção natural muito tempo antes que Wallace. Darwin, por causa desses acontecimentos, mudou seus planos e optou por guardar a maior parte do conteúdo que já tinha escrito para o futuro. Separou apenas alguns capítulos e os transformou no livro “Origens das espécies por meio da seleção natural”. No Brasil se estima que a primeira edição do “Origens” só saiu da década de 1930.

Paulo Verri Filho

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