No ano de 2009 serão comemorados os 150 anos da primeira edição inglesa do mundialmente famoso “Origens das Espécies”. Porém, cerca de um ano antes do livro ir para o prelo, Darwin autorizou a divulgação pública de alguns documentos secretos que continham as bases da Teoria da Seleção Natural. Mas por que Darwin fez isso, em vez de reservar o inédito conteúdo para o “o grande livro” que pretendia publicar?
O motivo estava há milhares de quilômetros da Inglaterra, no Arquipélago Malaio e se chamava Alfred Russel Wallace, um naturalista amador que coletava de animais exóticos para vender a museus e colecionadores.
Certa vez, Wallace ardeu em febre de malária e teve que ficar recolhido por dias. Assim, longe das matas e dos rios, ele encontrou tempo disponível para refletir e escrever uma carta para Darwin. O assunto principal era a origem das espécies, a qual ele se inspirou durante anos de trabalho em florestas tropicais, e na leitura de livros, como “Ensaios da população” do economista Thomas Robert Malthus. Na correspondência Wallace descrevia a distribuição geográfica e geológica de plantas e animais, as quais o fizeram questionar se o observado não poderia indicar as maneiras pelas quais as espécies se originavam.
Em 18 de junho de 1858 Darwin recebeu um embrulho na tranqüilidade de sua casa, o abriu, e em seguida leu o ensaio "Sobre a Tendência das Espécies de se Separarem Indefinidamente do Tipo Original” e se assustou. As idéias descritas eram praticamente as mesmas que ele utilizara para construir a Teoria da Seleção Natural. Tanto que escreveu para o geólogo Charles Lyell que ele próprio não poderia ter feito um pequeno resumo melhor.
Para os pesquisadores, há algumas razões que levaram Wallace ter a mesma idéia que Darwin, uma delas foram as pesquisas em ilhas, pois esse ambiente oferece um isolamento populacional, as diferenças se acentuam, e não há cruzamento com outras espécies. As hipóteses de Wallace surgiram no Arquipélago do Malaio, as de Darwin, em 1835, nas ilhas Galapagos.
Mas o que Darwin faria agora? Afinal, havia a real possibilidade dele ser superado por outro naturalista.
Foi nesse momento que Darwin sentiu um peso nos ombros e precisou pedir ajuda a dois fiéis amigos, o botânico Joseph Dalton Hooker e o geólogo Charles Lyell. Rapidamente eles conseguiram encontrar espaço na pauta de reunião de uma sociedade londrina, onde orquestraram para a noite seguinte a leitura de documentos, que garantiria a prioridade de Darwin em relação à formulação da Teoria da Seleção Natural.
Na noite de 1 de julho de 1858, o ensaio de Wallace, mais os resumos de outros feitos por Darwin 14 anos antes, além da carta enviada em 1857 a um biólogo de Harvard, Asa Gray, que descrevia aspectos da Teoria da Seleção Natural, foram lidos para cerca de 30 sócios da Linnean Society of London. Mas, a reação do público não foi significativa, tanto que o presidente da sociedade chegou a dizer, tempos depois, que infelizmente o ano não tinha sido marcado por nenhuma descoberta que revolucionasse o mundo da ciência. No entanto, esse arranjo serviu para oficializar publicamente o desejado, que Darwin já trabalhara com a idéia da seleção natural muito tempo antes que Wallace. Darwin, por causa desses acontecimentos, mudou seus planos e optou por guardar a maior parte do conteúdo que já tinha escrito para o futuro. Separou apenas alguns capítulos e os transformou no livro “Origens das espécies por meio da seleção natural”. No Brasil se estima que a primeira edição do “Origens” só saiu da década de 1930.
Paulo Verri Filho
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