quarta-feira, 25 de junho de 2008

Cadê as bandeirinhas?

Minha companheira recebe mais um dos meus convites inusitados, bem no meio de uma tarde de segunda-feira. Sem rodeios disparo: Oi tudo bom, que tal uma legítima festa junina na roça hoje a noite?

Ela animada, como sempre, pensa uns 10 segundos e aceita, mas antes, como toda mulher, pergunta se deveria ir vestida a caráter, com aquele tipo de vestimenta que as “mocinhas usam nessas ocasiões”. Entendo de imediato que ela imaginou algo como um vestido rendado e marias-chiquinhas presas num cabelo trançado. É claro que eu não tinha pensado nisso antes, mas para disfarçar respondo que eu iria de jeans, botina e camisa xadrez, e lá compraria um chapéu de palha.

Essa foi a expectativa que criei na minha amiga, pequena, perto da criada em mim durante o mês que antecipou o evento que deveria acontecer às vésperas do dia de São João numa cidadezinha chamada Córrego Rico.

Gosto muito dessas festas e sempre fico frustrado quando descubro que elas aconteceram muito próximo da cidade grande e eu não fiquei sabendo. Portanto, neste ano saí perguntando com antecedência aonde iria ter festa junina. Numa dessas ouvi do João Batista, proprietário do Café Altinópolis: “Você deve conhecer a que acontece perto de Jaboticabal, liga para o Marcão que ele lhe passa as coordenadas”.

Assim, orientado por dois legítimos caipiras, eu elegi a segunda-feira, dia 23 de junho, como a data em que eu iria comer um daqueles frangos felizes - pelo menos até o momento que o pescoço dele é torcido para ser assado na brasa - por ter sido criado solto a base de milho e bicharada, e depois me deliciar com pés de moleque, curau, canjica e, claro, canecas de quentão com bastante gengibre. Tudo, imaginava, preparado por aquelas “nonas” de braços gordos, e rostos sorridentes da comunidade. E, assim, ficar “sastisfeito”, me ajeitar num canto aquecido pelo calor da fogueira estalante, ouvindo um sanfoneiro tocar noite adentro.

Com esses objetivos bem definidos eu passei na casa da Dê no início da noite. Eu estava repleto de sonhos criados na minha infância - que não foi em Barbacena - mas teve momentos inesquecíveis, muitos desses vividos nos meses de junho, nas festas juninas que freqüentei. Saudosismo? Pode ser, mas saudável, algo que não pretendo perder.

Partimos animados para a estrada escura sentido a cidade de Dumont, em seguida tocamos para Guariba e, 40 minutos após, chegamos em um trevo com indicações do vilarejo. De imediato notei que a entrada de Córrego nem era asfaltada, e vibrei, afinal quanto mais rústico melhor. Após entrar e dirigir pela principal - e única - rua que corta o lugar, eu percebi bem longe, pessoas esquecendo as calçadas e andando no meio da rua - como cabritos - mais um sinal de que tínhamos chegado na roça. Meus sonhos iriam se realizar pensei, ou seja, em breve nós estaríamos no meio de um praça, toda cuidada, com gente simpática dançando quadrilha e gritando, olha a chuva, cuidado com a cobra.

O carro rodou mais 400m e avistei o fim de tudo, decidi fazer uma curva antes que a via acabasse - cidade de primeira diriam amigos meus, nem se chega na segunda marcha.

Desse momento em diante fatos estranhos começaram a acontecer. O primeiro: guardadores de carro surgiram. Mas guardar o carro pra quê num local que vivem apenas 600 pessoas?

Porém, estavam lá. Estacionei o carro, ouvi aquele “boa noite doutor” que detesto. Descemos do carro e logo sentimos aquele friozinho gostoso das primeiras noites de inverno, que reanima. Assim seguimos em frente conhecendo a tocada, como acho que diz o Teixeira.

Após alguns metros avistamos o local da festa de São João. A distância podia se ver um praça com muita gente, iluminada por uma bela fogueira, filas para se comprar não sei o quê e muitas barraquinhas, e atrás disso tudo, uma igrejinha. Lembro claramente o que disse a minha amiga nessa hora: É exatamente isso que eu esperava, Dê!

Fomos chegando mais perto, reforçando a visão para os detalhes e de repente percebemos que faltava algo. As bandeirinhas! Onde estão aquelas bandeirinhas coloridas de festa junina, perguntamos um para outro. Caminhamos mais uns metros e avistamos os pontos de venda de comidas. Frango assado, pastel, pastel de novo. Olhamos para a direita e percebemos um palco armado, e em cima uma banda do estilo da Calipso preparando instrumentos musicais. Sinceramente, nesse instante a fome falava alto, e nem ligamos para essas inusitadas imagens, e decidimos jantar, antes continuar a explorar o local.

Nada como um bom frango assado, nada caipira, mas gostoso, para abrir a mente e aguçar a percepção da realidade. Lambuzei-me, pois se tinha que comer com as mãos. Ufa pensei, mais um sinal da roça. Se não era galinha feliz pelo menos todo mundo segurava pedaços das empenadas com os dedos. As coisas vão melhorar daqui para frente.

Hora da sobremesa. Vamos aos quitutes. A primeira barraca nada de doces típicos, a segunda chocolate estilo suíço, a terceira brigadeiros, olhos de sogra, só se encontrava aqueles tipos de sobremesa de casamentos.

Cocada! Alardeou minha amiga, que sem ter outra opção comprou R$14,00.

Que decepção, praguejei, até que meio alto. Pois, senti, no meio daquela fileira dupla de vendedores que a ausência das bandeirinhas não seria um caso isolado. Afinal, alguém já viu festa junina sem quentão e CIA?

Confesso que fiquei desorientado e fui conversar como vendedor de balões para entender o que era aquilo tudo. Ele tinha um ar de sabedoria, mais ou menos 60 anos de idade. Perguntei-lhe: Não tem comida típica? Ele respondeu: “Meu filho, rodo a região toda nestas festas e não se vê mais isso não”.

Olhei para a Dê e a percebi com um sorrisinho maroto no rosto. “Vamos andar mais pouco, para animar”, ela me disse. Ainda eu não podia acreditar, totalmente, naquela farsa, por isso concordei. Caminhamos e ela se lembrou da quadrilha... E, cinicamente, me questionou: “Que horas acha que vai ser Paulo?”. Olhei e ela continuava com aquela expressão. Vou checar e já volto, respondi.

Seu guarda, com licença, o sr poderia me informar que horas começa a quadrilha?

Ele dá uma risada e responde:

“Em qual cidade amigo? Aqui não tem mais isso não!”.


Paulo Verri Filho

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